Comentaristas ou Marqueteiros Anti-Ciro Gomes?

Dicionários, enciclopédias e outros compêndios de referência não foram feitos para humilhar ninguém. Por isso, e especialmente em uma época em que temos versões modernas on-line à velocidade de um clique, como a Wikipédia por exemplo, não se compreende como jornalistas ainda teimem em desprezá-las em lugar de confessarem sua suprema ignorância e recorreram a estes fundamentais instrumentos de consulta.

O resultado é que acabam confundindo alhos com bugalhos, enxergando racismo (cuja definição parecem desconhecer) onde ele inexiste (mais do que qualquer outra coisa por pressa em criticar sem conhecimento de causa) e tendo que tomar lição no ar com o titio Marcelo Madureira.  Tudo isso a despeito de o verbete sobre o “capitão do mato” com uma ilustração de Rugendas ser preciso em sua descrição e merecer ser visitado para lembrarmos desse personagem abominável da história brasileira (aquele que militava contra o seu próprio grupo identitário).

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A intervenção desastrosa é consequência da campanha insistente que alguns comentaristas da rádio Jovem Pan de São Paulo vêm fazendo contra a candidatura de Ciro Gomes. O tratam com uma falta de deferência e mesmo de respeito mínimo que contrasta com o tom amigável que dispensam aos outros candidatos. E vejam que o currículo de Ciro Gomes, em termos meritocráticos, não tem paralelo entre os que se preparam para a disputa presidencial deste ano.

Ciro foi docente de direito tributário e constitucional em universidades brasileiras, prefeito, deputado estadual, deputado federal, governador e ministro de estado por duas vezes (na primeira delas, criador, com FHC, Pedro Malan, Gustavo Franco, Persio Arida,  André Lara Resende, do plano real). É ainda autor de livros acadêmicos e já foi professor visitante na faculdade de direito de Harvard por um ano e meio. Para os comentaristas da Jovem Pan tudo isso é pouco em 60 anos de vida.

Para os marqueteiros anti-Ciro, ele é um coronel, um barão do nordeste, herdeiro de capitania, ainda que tenha alcançado projeção muito maior do que seu pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, que foi apenas prefeito de Sobral por um único mandato (entre 1977 e 1983), ou do que qualquer outro de seus irmãos. O nome disso é mérito pessoal.

Quanto ao artigo de Alexandre Schwartsman na Folha de São Paulo, há duas semanas atrás, que a comentarista parece não ter lido em detalhe para discuti-lo com Ciro Gomes, ele está disponível na Internet. As reações fortes de Ciro procedem. Schwartsman foi o primeiro a atacar. Acusou a equipe de consultores para assuntos de economia do candidato de má-fé e covardia (foram os termos usados pelo articulista). Está lá para os que quiserem verificar.

O ataque se apoia em uma besteira de nomenclatura que nada ajuda no debate e na caracterização do alto montante da dívida pública. A sensação que se tem é que Schwartsman estava tentando impressionar seus clientes mostrando que sabe identificar contradições e falta de preparo no “candidato de esquerda”. Atitude boba, ultrapassada e que não se comprova. A analogia do aluguel de um imóvel para explicar a dívida pública se revelou ainda, do ponto de vista pedagógico, inadequada.

No artigo desta semana, Schwartsman tentou responder sem discutir, atacando (imaginem só) uma suposta falta de compreensão dos manuais do FMI. Reclamou ainda da respota dura de Ciro, como se ele não tivesse começado o ataque. O despropósito dos comentários do colunistas não escaparam de imediato às mensagens dos leitores no site da Folha.

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Programa da Jovem Pan

Entrevista com o candidato na emissora paulista

Sobre Marcos Pedrosa de Souza

Marcos Pedrosa de Souza é professor da Fundação Cecierj. Tem formação em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e em letras pela Universidade Santa Úrsula. É mestre e doutor em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi colaborador de O Globo e de outros jornais e revistas. Foi professor do IBEU, da Cultura Inglesa e da Universidade Estácio de Sá.
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