Lembrando Artur Xexéo

Acompanhei muito da trajetória profissional do repórter, colunista e editor Artur Xexéo. Sempre com extremo apreço por sua forte vocação jornalística como antenado comentador cultural. Um envolvimento mais direto por parte deste leitor infelizmente só não se deu por conta da falta de uma maior afinidade e identificação. É que Xexéo pertencia marcadamente a uma geração anterior a minha. Suas divas estavam reunidas em um plantel de artistas e personalidades com as quais tinha dificuldade de me reconhecer. E a paixão dele pelas cantoras do Rádio da década de 1950, por Elis Regina, por Hebe Camargo, por Janete Clair, era grande. Tinha também o deslumbramento por acontecimentos breguérrimos como a festa do Oscar. Se por vezes nos distanciávamos, em outras nos aproximávamos no elã e fervor por festivais de cinema como os de Gramado, Brasília, Cannes, Veneza e Berlim, o que criava um vínculo direto entre o jornalista-cronista e este leitor.

Nunca tive o prazer de conhecê-lo, o que lamento. Gostaria muito de ter me aproximado de sua turma, especialmente durante o período em que esteve sob o comando de Zuenir Ventura no Jornal do Brasil. O JB parecia tão imponente e inabalável que lembro bem de o jornalista, no momento em que viu a empresa do moderno prédio da Avenida Brasil 500 começar a ter dificuldades e em seguida vários de seus colegas migrarem para O Globo, escrever que nunca, jamais, em tempo algum, abandonaria o jornal. Como agora sabemos, Ali Kamel acabou por convencê-lo a ir para O Globo. Quando chegou por lá, eu já estava longe. Talvez se tivesse trabalhado com Zuenir e Xexéo no JB ou em O Globo, poderia, quem sabe, ter estendido um pouco mais os meus 15 minutos de vida jornalística.

Em uma única oportunidade nos encontramos. Foi em janeiro de 1985, durante o primeiro Rock in Rio. Entre as incontáveis entrevistas com Queen, Rod Stewart, Ian Anderson, houve uma com a cantora Nina Hagen. Em uma sala adjacente a um quarto do Hotel Cassino Atlântico (depois, Sofitel e hoje, Fairmount), QG do festival, foi reunida uma legião de repórteres para enfrentarem a presença espalhafatosa da cantora alemã. Um a um os jornalistas iam entrando no quarto em que Hagen se encontrava para que sacassem suas perguntas e aguardassem pelas imprevisíveis e esotéricas respostas da compositora/performer. Esperamos muito tempo. Umas três horas, imagino.

Neste intervalo, fomos sobrando, Xexéo, uma repórter que o acompanhava (achei muito chique e um luxo que a IstoÉ tivesse escalado dois jornalistas para entrevistarem a histriônica cantora) e eu. Foi tempo suficiente para me dirigir por duas vezes ao banheiro. Quando seguia pela segunda vez ao lavabo, um Xexéo surpreso me desferiu inesperadamente, talvez pela falta de assunto entre dois desconhecidos depois de tanta espera, a pergunta: “Mas de novo?”. Achei graça do desprendimento do jornalista. O Xexéo e sua parceria de reportagem seriam logo chamados para estarem com Nina Hagen e por último este que vos digita. Ao adentrar o local fui surpreendido ao ver todo o batalhão de repórteres que estavam comigo na ante sala, e que me antecederam, sentados como se fossem uma plateia para ouvir o que eu tinha a perguntar à cantora. Muito constrangedor ser escalado para o papel de host de talk show e incompreensível a razão de não estarmos todos juntos no mesmo lugar desde o início. Invencionices dos big bosses das gravadoras multinacionais que felizmente sumiram do mapa.

Segue a reportagem da época com as informações colhidas nesta que seria uma “exclusiva” e em uma outra grande coletiva em um auditório do hotel. Gostaria de reler o que saiu do trabalho do Xexéo

Sobre Marcos Pedrosa de Souza

Marcos Pedrosa de Souza é professor da Fundação Cecierj. Tem formação em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e em letras pela Universidade Santa Úrsula. É mestre e doutor em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi colaborador de O Globo e de outros jornais e revistas. Foi professor do IBEU, da Cultura Inglesa e da Universidade Estácio de Sá.
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